Não quero começar essa escrita me vitimizando ou algo do tipo, a ideia é deixar um ponto de vista que talvez te passou despercebido.
Quando iniciei minha caminhada, descobri uma sede insaciável por conhecer e entender as coisas do céu, era e sempre foi um desejo limpo e sincero, e quanto mais eu buscava pela graça e conhecimento, com mais desejo ficava e os sonhos de mudar o mundo cresciam, afinal, era isso que eu entendia por impactar as pessoas.
Com toda essa "gana" de aprender, somada a algumas habilidades de expressão, rapidamente cresci na obra do Senhor, ganhei os púlpitos, convites, era o típico jovem prodígio, na época que vivemos, um jovem sincero diante do Pai é relativamente raro.
O desejo de cuidar de pessoas aumentava estrondosamente, minha preocupação e força de vontade me lançaram em bocas-de-fumo, favelas, pontos de prostituição e lugares do tipo, com apenas um ano de conversão, é de fato necessário cuidar com os ímpetos, mas meu líderes não me apoiavam, não iam comigo ou designavam outros a irem, até que percebi, aos dois anos de estrada de fé que eu precisava fazer uma escolha: ia até aos necessitados, ou seguia o conselho dos mais velhos e usava a eloquência que dispunha para desenvolver alí -que segundo eles- eu me daria bem...
Nesse momento, obviamente optei por me lançar no desconhecido e saí em busca de outras denominações, eu não acreditava ser possível estar sozinho nessa (humanamente falando).
Encontrei lugares bons, mas não biblicamente saudáveis e isso me assustava com o passar do tempo, mas seguia fazendo o que sempre fiz, cuidando de pessoas e não lugares.
A partir desse ponto, acredito que foram os momentos dos balanços e ajustes, por várias vezes, senti como o Senhor me orientando sobre o que fazer e principalmente sobre o que não fazer, visto que eu já havia desenvolvido bem, mas desordenadamente...
Aqui foi o meu vale, era doloroso caminhar sozinho de certa forma, passei muitas situações em que eu gostaria de me abrir, o que raramente era possível porquê sempre que sentava com alguém para conversar, eu que acabava ouvindo e automaticamente deixava meus problemas de lado para acalentar irmãos em situações igualmente difíceis. Nesse tempo, foram várias questões de saúde, emocionais, crises profissionais, estudantis, enfim, acho que nenhuma área da minha vida escapou de situações adversas.
Há pessoas que nunca me desculpei por não dar a atenção que mereciam, principalmente por estar mergulhado em preocupações por exemplo. Perdi momentos em família para auxiliar pessoas, tirei de minha mesa para colocar na mesa de outrem, mas nada disso me arrependo, ao contrário, glorifico ao Senhor pelas oportunidades de poder ajudar a quem precisou.
Ultimamente, tenho visto muitos colegas de caminhada tirando as próprias vidas, não posso culpá-los ou condená-los ao inferno, pois acredito, que inferno maior já estavam vivendo. Não estimulo o suicídio e de longe acho a melhor maneira de se resolver, falando especificamente do suicídio no meio eclesiástico, vejo muitas pessoas condenando, mas não sabem o que é levar coronhada de bandido por interceder por outra vida, não sabem o que é virar noites a fio conversando, acalentando, ouvindo e cuidando de outros seres humanos, muitos não sabem o que é ficar com fome para que outro coma, a maioria não sabe o que é caminhar quilômetros para abraçar alguém, muitos não sabem o que é sofrer calado, simplesmente por não querer preocupar ninguém com suas dores.
Sigo defendendo a vida, mas às vezes simplesmente não temos mais forças, não conseguimos lutar, pelos outros sim, mas não por nós mesmos.
Eu gostaria muito que pensassem a respeito do que sofre quem cuida e está ao seu lado.
Peço perdão a todos, lembro-lhes que sou um pastor e não um super homem gospel, peço perdão ao Senhor por não ser mais forte e que minha situação desperte a curiosidade do que há por trás das cortinas...
Do seu sempre irmão em Cristo...